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quinta-feira, novembro 27, 2003

Leões Diários



Tentei explicar, não uma, mas várias vezes. Na última tentativa desisti por que percebi meu corpo tremendo por inteiro. Meu anseio neste momento passou a ser agarrá-la pelo pescoço e apertar muito, mas muito mesmo. Então, desisti...
Saí, fui dar uma volta para descobrir como conseguir que uma funcionária acatasse a minha ordem sem que eu tivesse que dissuadi-la de uma maneira não convencional. Descubro que neste cargo em que me encontro, minha responsabilidade quadruplicou de repente. Não é que tenho que ter o maior cuidado com o quê digo a fim de que a empresa seja preservada judicialmente? Nossa! Quantas são as regalias dos empregados! E quanto mais inferior for sua instrução, maior é seu conhecimento sobre seus direitos. É a prova concreta da matemática do "inversamente proporcional", assim como ombros estreitos e quadris largos. Se eu pudesse, não aceitaria nenhum desaforo. Responderia a todos, todos eles o mais violentamente que conseguisse. Acho que não tenho um perfil de liderança, mas vou levando, é o jeito...

Como falar para o cara da manutenção tomar um banho antes de vir trabalhar e, pelo amor de Deus, limpe a porra da sujeira que fez quando pendurou aquilo na parede e pára de pintar que nem seu cú essas paredes, deixando pingar no chão. Ficou uma merda, seu imbecil!!!! Aí, eu olho, ignoro o cheiro e peço a gentileza dele tentar limpar a sujeira e, quem sabe, da próxima vez ele não pega umas folhas de jornal e forra o chão, etc...,etc...,etc...

Sabe o quê eu acho de verdade? Que quando fui empregada, com carteira assinada e tudo, fui uma estúpida e imbecil que não soube aproveitar a faca, o queijo, os ratos, a geladeira inteira que eu tinha a minha disposição simplesmente pelo fato de estar empregada. Como é simples e deliciosa a vida do empregado!!! Não quer trabalhar? Arranje um atestado "dor nas costas". Achou que seu patrão falou bom dia de forma insatisfatória? Reclame no Sindicato, vá à delegacia, dê queixa dele, consiga, judicialmente, continuar trabalhando só para olhá-lo nos olhos todos os dias. Há...Há...Há... Ria dele todas as noites antes de dormir. Vingue-se!!!
É, não fiz nada disso. E não faria. Não tenho este gene. Que pena!!! Ao menos, como chefe posso, de vez em quando, dar uns coices por aí...

Alguém já te contou que "Ternura" era o nome das meias do Che Guevara? "Ai que endurecer, pero sin perder la Ternura" Céus, ele trepava de meias?!? Isso é que é ser subversivo, o resto é lorota. Ser o que se é redimir-se de si mesmo o tempo todo (nossa, saiu assim, naturalmente. Vou anotar para pensar no significado depois). O mundo está fútil, definitivamente fútil. Penso, diariamente em abrir um negócio cujo objetivo principal seja a futilidade. Não consigo, parece tão fácil, tão básico, tão desnecessário, tão vazio, tão medíocre... Não consigo! Entendi, é fácil quando já existe, senão é complicadíssimo. Diante desta constatação fica óbvio que Ratinhos e Márcias são simplórios, mas não são simples, mesmo que abestalhados.

“Existe alguma coisa que não gosta de muro..." assim começa uma poesia (ou poema. Qual a diferença?) que li nos tempos de faculdade. Não lembro de quem é, está guardado em casa. Só lembro que é alguém que conhecemos. Reescrevi a minha moda naquele tempo, quando filosofia permeava minha vida. Ficou legal, deve estar guardado também.

Uma vez me vi assim: sentada no centro de uma sala envidraçada cujos vidros estavam baços. Eu olhava tristemente para eles acreditando só existir aquela sala. Não sei bem porquê, mas um dia levantei e fui observar o vidro bem de perto. Notei a sujeira. Passei a mão e percebi, deslumbrada, um mundo novo do lado de lá. Quando passou a euforia, perguntava-me como alcançar o outro lado e se queria alcançá-lo, se seria para mim, se eu deveria tentar. Tive o impulso de voltar para minha cadeira e posicionar-me de costas para aquela estupidez que havia cometido no vidro. Que maluquice, que subversão! Quem eu estava pensando que era para cometer a heresia de querer ir além de onde estava?

No entanto, aquela imagem gravara-se em minha mente, tatuando minha alma e não pude resistir - como no ato de vomitar - a tudo que eu senti. Não sei bem ao certo como saí de onde estava, naquela espécie de paralisia tetraplégica. Hoje estou fora para nunca mais voltar.

A Maitê Proença respondeu. Achou minhas crônicas ótimas, principalmente "A Visita". Meu ego parou nas nuvens. Achei que a missão de todo este movimento era só me fazer começar a escrever no jornal local. A Cristina Mutarelli está aqui (está dirigindo uma peça aí com a Gabriela Duarte e não sei mais quem no Crowne Plaza). Dei a crônica sobre Terapia para ela ler. Não sei bem qual o meu objetivo. Talvez esteja sonhando, ingenuamente, que sou capaz de escrever textos para teatro (que bobagem, depois de velha!!). Meu marido gosta e acho que até curte. Não interfere, sabe bem que é um movimento meu. Adoro o jeito dele. Já são 22h:36min e os hóspedes retiraram-se. Até que enfim, posso ir dormir também...


posted by ANÍSSIMA
2:21 PM